Falta de recursos
APAES do RS lançam campanha para mobilizar candidatos das eleições
Objetivo é enfatizar a importância de investimento público para as Associações continuarem prestando atendimento a cerca de 70 mil usuários em 390 municípios gaúchos
Jô Folha -
Em campanha denominada Você não imagina do que é capaz, a Federação das Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais do Rio Grande do Sul (FEAPAES-RS) busca conscientizar os candidatos das Eleições 2022 para a importância do investimento e políticas públicas voltadas para as instituições. A iniciativa está sendo veiculada no Estado, com doação de mídia em espaços cedidos nas estações de rádio, emissoras de televisão e também na internet.
As Apaes, que têm a missão de educar, prestar atendimento na área de saúde e lutar por direitos na perspectiva da inclusão social das pessoas com deficiência intelectual ou múltipla, estão distribuídas por todo o país. No Rio Grande do Sul, 206 Unidades atendem cerca de 70 mil usuários, de 390 municípios gaúchos, devido à abrangência regional do trabalho.
Conforme a Apae Brasil, o movimento das instituições surge da necessidade de cobrir a ineficiência das diferentes esferas de governo em prestar a devida assistência a essa parte da população. Entretanto, para cumprir esse papel tão importante na vida de milhares de famílias, as associações enfrentam desafios em razão da falta de recursos e investimentos públicos. E a campanha nos meios de comunicação enfatiza a questão, ao fazer a provocação: Você que é candidato ou candidata tem que prometer que, se eleito, vai prestar mais atenção no trabalho que as APAES realizam, todos os dias, com quase nada de recursos e políticas públicas.
Recursos escassos há anos
No Estado, do total de Apaes, 145 são também escolas especiais, e por isso, recebem recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb). Além disso, 120 Apaes prestam atendimento de saúde. Em 65 instituições, o serviço é fornecido por meio de convênios com o Sistema Único de Saúde (SUS), e nas restantes, com os municípios.
Já as Apaes que prestam apenas o trabalho de assistência social não recebem nenhum recurso do governo do Estado ou federal. Todo o atendimento é financiado pela própria instituição, através de parcerias, doações e promoção de eventos solidários.
O presidente da FEAPAES-RS, Afonso Tochetto, conta que a maior demanda é na área da saúde. De acordo com ele, as Apaes conveniadas ao SUS recebem R$ 10,00 por consulta com neurologistas e R$ 17,26 para as com fonoaudiólogos e fisioterapeutas, por exemplo. "Esses valores são insustentáveis, não têm como as Associações se manterem recebendo R$ 10,00 para uma consulta com neuro, se ela custa em torno de R$ 150,00", aponta.
Tochetto diz ainda que os recursos do Fundeb para as escolas especiais também são insuficientes. Ele explica que o repasse custeia praticamente apenas os salários dos professores, apesar de prever a cobertura de gastos estruturais, como água e energia elétrica. "Precisamos de verbas para a manutenção e ampliação dos espaços para aumentar o atendimento", afirma. Atualmente, contabilizada só a rede de ensino das Apaes, são 10.540 alunos no Rio Grande do Sul.
O presidente salienta que a situação já está praticamente insustentável. Por essa razão a campanha foi elaborada, com o objetivo de chamar a atenção de todos os candidatos a cargos públicos a ter mais compreensão sobre os atendimentos que os usuários necessitam. "Ela visa, especificamente, à conscientização dos candidatos. Qual será o olhar que eles vão ter para as Apaes? Nesse sentido que a campanha é lançada".
E o cenário por aqui?
Em Pelotas a Apae tem 256 alunos e realiza mensalmente, por meio do convênio com o SUS, em torno de 900 consultas. O presidente da Associação no município, Cláudio Cruz, explica que atualmente a instituição opera com o orçamento no vermelho. Ele conta que para tentar reverter a situação, diversas iniciativas solidárias são desenvolvidas, como rifas e venda de galetos e de sopas para arrecadar recursos.
Vitor Benjamin, 7, é um dos usuários que faz parte das centenas de atendimentos de saúde realizados mensalmente. Diagnosticado com autismo há cerca de três meses, a mãe Daiane Lima conta que a criança tem o acompanhamento de fisioterapeuta e neurologista, além de estar na fila para consultas com terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo.
Ainda de acordo com a autônoma, a Apae foi onde encontrou o melhor suporte. "Eu já fui em outras instituições, mas elas não conseguiram me fornecer tantos atendimentos como aqui e eles também auxiliam as mães nesse processo. Às vezes precisamos de atendimento de psicólogos e eles nos ajudam. Aqui todos os profissionais estão sempre dispostos a ajudar", ressalta.
Outro usuário, que conta com atendimentos há quase dois anos, é Emanuel, 9. Na Apae ele tem acompanhamento com terapeutas ocupacionais, conforme a mãe, a dona de casa Suelen Brasil. Ela conta que para conseguir a assistência esperou dois anos na fila. "Porque infelizmente faltam profissionais para tanta demanda e tem muitas crianças que ainda aguardam por uma vaga", diz.
Suelen comenta que, sem a Apae, provavelmente o filho - diagnosticado com autismo com cinco anos de idade - estaria sem acompanhamento médico, devido ao orçamento apertado. "Mas graças a Deus nos chamaram, porque se for calcular os valores das terapias e a nossa renda, não têm como. Então, se não houvesse a Apae, ele provavelmente estaria sem atendimento", enfatiza.
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